De segunda a sexta-feira, os internos deixam suas celas para
fazer a limpeza e revitalização de canteiros e praças da capital paraense.
O
trabalho que dá vida e colorido a diversos pontos de Belém pode até passar
despercebido por pedestres e motoristas que circulam rápido pelas ruas. Muitos
não sabem, mas as mãos que plantam, podam e cuidam de flores e plantas da
cidade, cultivam, acima de tudo, sonhos. O desejo de prosperar através deste
trabalho é o que move 41 detentos do regime semiaberto, custodiados pela
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), que fazem parte
do projeto Sementes, resultado de um convênio com a Prefeitura de Belém,
por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb).
De
segunda a sexta-feira, das 7h às 13h, estes homens e mulheres deixam suas
celas no Centro de Progressão Penitenciária de Belém (CPPB) e no Centro de
Recuperação Feminino (CRF) para fazer a limpeza e revitalização de canteiros e
praças da capital paraense. Em dezembro, o trabalho
do Sementes prepara o canteiro da Avenida Duque de Caxias e da
Avenida Brigadeiro Protásio, que recebem mais uma etapa da ciclovia que
está sendo implantada na cidade. Durante o ano de 2015, o projeto já passou por
locais como as Praças Dom Aberto e da Trindade e Conjunto Sideral.
O roteiro
dos locais de trabalho do projeto e o acompanhamento técnico são feitos pela
Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Já o fornecimento de equipamentos
de trabalho, de segurança, treinamento e fiscalização são de responsabilidade
da Seurb. A Susipe seleciona os internos e faz a avaliação processual, social e
psicológica dos candidatos às vagas.
“Fazemos
reuniões bimestrais para avaliar como o trabalho está sendo realizado e também
como os detentos realizam as funções determinadas. A intenção é sempre em prol
da melhoria da cidade e também da ressocialização das pessoas que trabalham no
projeto. No fim, todo mundo ganha. Colhemos resultados positivos desde o início
do projeto, tanto é que já soubemos de duas pessoas que, por se dedicarem
enquanto trabalharam conosco, já conseguiram outras oportunidades de emprego
quando saíram do Sementes. A maior prova de sucesso é que a parceria vem
sendo renovada ano a ano”, conta o fiscal do convênio, Fábio Ferreira.
Oportunidade
Para
muitos, o Sementes é a primeira oportunidade de trabalho dentro do
sistema penitenciário. Esse é o caso da interna Jaqueline Rodrigues. Há pouco
mais de um ano ela já atua no projeto, ajudando no paisagismo de locais
públicos da cidade. “Vejo essa oportunidade como um voto de confiança. Saio
todos os dias do CRF de manhã e cumpro o meu papel. Por minha família ser de
Jacundá e eu não receber visitas, acabo fazendo disso uma terapia. Isso ajuda a
passar o tempo que ainda preciso cumprir de pena. Já aprendi muito aqui e hoje
até ensino um pouco do que sei para as meninas novatas no trabalho”, diz a
detenta.
Prestes a
completar dois anos, o Sementes é um dos 25 convênios firmados pela
Susipe para oferecer novas oportunidades de trabalho para os internos. “Desde a
sua criação, o projeto vem dando bons frutos para os internos e os órgãos
envolvidos. Sempre pudemos contar com uma boa equipe de trabalho que se adapta
bem ao que é proposto. É uma oportunidade muito importante para a reintegração
destas pessoas à sociedade. Por estar ligado à natureza, ele acaba
proporcionando momentos de reflexão aos internos”, relata Izabel Ponçadilha,
gerente da Divisão de Trabalho e Produção da Susipe.
Depois de
passar oito anos no regime fechado, Edson Cavalcante é um dos novatos no
trabalho. Desde que foi para o CPPB, há dois meses, ele se candidatou para a
oportunidade. “Fiquei sabendo do trabalho e pedi para fazer parte do projeto.
Para mim, é uma terapia. Depois de tanto tempo preso, a gente começa a dar mais
valor pelo mundo que existe fora da penitenciária. Poder ver a rua todo dia e
ajudar a melhorar a cidade, pra mim é uma terapia”, diz Edson.
Desde a
sua criação, o Sementes já empregou mais de 240 detentos. Os detentos
são remunerados com três quartos do salário mínimo e recebem o benefício da
remição de pena, que consiste na redução de um dia de prisão a cada três dias
trabalhados.
Timoteo Lopes
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará
Fonte:
Agência Pará de Notícias
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